Ontem de manhã tava no terminal 2 do aeroporto de Brasília, de onde saem os voos fretados e os aviões particulares, esperando pra fazer uma vistoria com dois técnicos do IBAMA.
Sentados no saguão do terminal enquanto esperávamos completar o grupo que faria a viagem, ficamos todos prestando atenção quando começou a se formar uma fila de carros pretos na porta do terminal.
Depois de uma comitiva de aspones carregando malas, pastas e demais apetrechos, desembarcou de um deles a ex-ministra Dilma Rousseff.
Fiquei impressionado com o olhar alucinado e o brilho na pele que circunda os olhos; o ricto pregado à face como o coringa de Heath Ledger. Na verdade o rosto parecia uma mistura do coringa com o traficante Juan Carlos Abadía (o Kibe loco já havia percebido isso antes: http://kibeloco.com.br/kibeloco/?s=separados+por+uma+ou+duas+pl%C3%A1sticas&sa.x=22&sa.y=7).
A falta de traquejo pra lidar com o povo, em uma pessoa que passou grande parte de sua vida ignorando a presença dos demais quando em público ficou patente no tropeço no chão liso e plano do aeroporto, simultâneo ao bom-dia dirigido a nós dirigido.
Pelo visto vai demorar um pouco até que ela consiga caminhar e dar bom-dia ao mesmo tempo de uma forma natural.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
sábado, 25 de abril de 2009
Blade Runner
Existe um prazer bastante peculiar, já em vias de extinção, que é encontrar um cd que um dia se teve em LP ou outro formato qualquer.Esses tempos, comprei a trilha sonora de Blade Runner, que nos remotos anos 80 embalavam o sono nas madrugadas de um pequeno apartamento na Barros Cassal. Depois da balada, um punhado de amigos muitas vezes trocavam as últimas palavras da noite ao som do "Love Theme" de uma fita cassete.
No domingo passado passou na tv uma terceira versão do filme, sem a narração em off e com um final um pouco diferente daquele das sessões da meia-noite no Bristol.
O futuro não é mais como era antigamente, mas algumas coisas continuam em vigor.
Dia desses descobrimos que o Miguel também gosta de dormir com o "Love Theme". Ontem à noite, em nosso debut "solo", com a Carmen no Mato Grosso, ele dormiu com o cd tocando. Lá fora, uma chuva fina, um engarrafamento gigantesco no Eixão e uma fila de aviões descendo no aeroporto.
Se a gente reparar bem, não fosse a questão da escala, o Teatro Nacional até parece o edifício da Tyrrell Corporation.
2019 tá logo aí, mas ainda vai levar um bom tempo até que os carros voem.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Jazz moderno
As noites adquirem um ritmo diferente, que nos faz dominar a programação da madrugada na tv. As manhãs eventualmente iniciam antes de o sol aparecer e fica difícil fazer qualquer coisa de forma ininterrupta por mais de duas horas.
Um filho também traz uma sensação de relativa imortalidade difícil de descrever, ao nos depararmos com uma criatura que é feita de um pedaço de nós e é ao mesmo única.
Não sei como descobrimos, mas o Miguel tem uma especial predileção pelo disco "Dick Farney e seu jazz moderno no audidório de O Globo", que neste ano de 2009 completa 50 anos. Música maravilhosa, ainda moderna, como diz o nome do disco, e capaz de agradar a um bebê de 8 meses, seus pais e avós.
Na hora do resmungo do sono é certeiro: aos primeiros acordes de "Blue moon" ele se acomoda no colo pra uma dança miudinha e antes de "Lullaby for Birdland" ele já tá invariavelmente dormindo.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Amazônida
Este ano, além de candango virei um pouco amazônida também.
Depois de quatro viagens a Itaituba/PA (4° 16' 33"S/55° 59'02"W), já começo a olhar o Tapajós com intimidade e me relacionar melhor com o mundo amazônico.
A primeira vez que fui a Itaituba pensei que nunca mais voltaria lá. O calor equatorial, o esgoto correndo a céu aberto, os urubus fazendo as vezes de pombas, tudo provocava um estranhamento que só foi passar depois da segunda viagem.
Precisa-se de um tempo pra ajustar o olhar sub-tropical à exuberância da floresta e entender o fascínio do ouro e sua presença na vida da região.
O estado praticamente não existe e há uma violência latente que frequentemente aflora, sendo normal as ameaças de morte e as histórias de pistoleiros. Mas por outro lado há uma delicadeza nas relações humanas, uma doçura no trato surpreendente e encantadora.
A Amazônia é como um vírus; depois de inoculado é impossível ficar indiferente a ela, sem esquecer as palavras de Conrad, que diz que "nos trópicos, antes de tudo deve-se manter a calma".
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Árvores
As pessoas que inventaram Brasília não tinham qualquer intimidade com o cerrado e sua peculiar vegetação, e foi natural que usassem as árvores que conheciam de outras paragens para diminuir a impressão de deserto que o enorme canteiro de obras oferecia quando as obras iam ficando prontas.
São paus-ferro da mata atlântica, jambolões e mangueiras da Índia, ipês do Brasil inteiro, e tantas outras, resistindo na medida do possível aos rigores do clima. Na 104 sul tem uma araucária triste e desmilingüida e na 105 sul uma aroeira-salso que parece totalmente em casa.
Quando as chuvas começam, é necessária uma grande faxina pra eliminar as árvores que não estão muito bem e que ameaçam a segurança dos transeuntes e do patrimônio.
As árvores estão na vida da cidade como está a arquitetura. No começo da primavera eram as crianças e adultos de mãos e pés manchados de roxo, colhendo amoras.
Em novembro chamam a atenção os grupos de todos os tamanhos sob as mangueiras, arremessando paus, pedras e tudo mais que estiver por perto, pra tentar derrubar as mangas maduras que estão longe do alcance das mãos.
Perigo mesmo são as jaqueiras que começam a amadurecer seus frutos improváveis e que logo demandarão toda a atenção dos pedestres para evitar surpresas desagradáveis, tanto pelo cheiro como pela ameaça que representam à integridade física de todos.
São paus-ferro da mata atlântica, jambolões e mangueiras da Índia, ipês do Brasil inteiro, e tantas outras, resistindo na medida do possível aos rigores do clima. Na 104 sul tem uma araucária triste e desmilingüida e na 105 sul uma aroeira-salso que parece totalmente em casa.
Quando as chuvas começam, é necessária uma grande faxina pra eliminar as árvores que não estão muito bem e que ameaçam a segurança dos transeuntes e do patrimônio.
As árvores estão na vida da cidade como está a arquitetura. No começo da primavera eram as crianças e adultos de mãos e pés manchados de roxo, colhendo amoras.
Em novembro chamam a atenção os grupos de todos os tamanhos sob as mangueiras, arremessando paus, pedras e tudo mais que estiver por perto, pra tentar derrubar as mangas maduras que estão longe do alcance das mãos.
Perigo mesmo são as jaqueiras que começam a amadurecer seus frutos improváveis e que logo demandarão toda a atenção dos pedestres para evitar surpresas desagradáveis, tanto pelo cheiro como pela ameaça que representam à integridade física de todos.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Táxis
O transporte público em Brasília não se encontra entre as melhores coisas da cidade. Digo isso embora nunca haja sequer entrado num ônibus por aqui.
Mas tenho certeza de os táxis não ficam muito atrás. Os motoristas em geral são um pouco mais delicados do que os de Porto Alegre, que certamente não têm competidor no quesito grossura e invariavelmente se pode ir ao aeroporto do melhor jeito possível (calado). Os carros são um horror. Sujos e caindo aos pedaços e a tarifa beira a extorção. O aeroporto é dentro da cidade, mas por algum desses mistérios que somente a relação de uma categoria como a dos taxistas com o poder público pode explicar, usa-se bandeira 2 em qualquer horário, independentemente da origem da corrida.
No primeiro semestre, após o governo do distrito federal anunciar não sem uma certa pompa a criação de uma linha de ônibus executivo ligando o aeroporto à zona central, houve uma vexaminosa volta atrás por pressão do sindicato dos taxistas e o aeroporto da capital do país vai continuar dependendo exclusivamente da frota de táxis mais precária entre todas as grandes cidades do país.
Na sexta passada tive que vir do aeroporto até em casa com a janela aberta apesar do chuvisqueiro, pois o cheiro não era exatamente dos mais agradáveis.
Em Brasília, se beber tente não ir de táxi.
Mas tenho certeza de os táxis não ficam muito atrás. Os motoristas em geral são um pouco mais delicados do que os de Porto Alegre, que certamente não têm competidor no quesito grossura e invariavelmente se pode ir ao aeroporto do melhor jeito possível (calado). Os carros são um horror. Sujos e caindo aos pedaços e a tarifa beira a extorção. O aeroporto é dentro da cidade, mas por algum desses mistérios que somente a relação de uma categoria como a dos taxistas com o poder público pode explicar, usa-se bandeira 2 em qualquer horário, independentemente da origem da corrida.
No primeiro semestre, após o governo do distrito federal anunciar não sem uma certa pompa a criação de uma linha de ônibus executivo ligando o aeroporto à zona central, houve uma vexaminosa volta atrás por pressão do sindicato dos taxistas e o aeroporto da capital do país vai continuar dependendo exclusivamente da frota de táxis mais precária entre todas as grandes cidades do país.
Na sexta passada tive que vir do aeroporto até em casa com a janela aberta apesar do chuvisqueiro, pois o cheiro não era exatamente dos mais agradáveis.
Em Brasília, se beber tente não ir de táxi.
domingo, 14 de setembro de 2008
SIGLAS
Domingo cedinho voltava de tomar café na melhor padaria da cidade (La Boulangerie - 106 sul, Bl. A, loja 3) e na comercial da 103 havia um carro do governo estacionado. Uma camionete fiat com um "MRE" amarelo na porta.
A vida em Brasília exige, num primeiro momento, o domínio das siglas que compõem os endereços, por uma questão de simples sobrevivência. O passo seguinte, que depende muito do grau de envolvimento com a máquina pública, é preciso dedicar algum esforço às siglas governamentais.
MRE...
Meio sonolento, não consegui decifrar na hora.
Um governo tão pródigo na criação de ministérios e secretarias especiais é capaz de qualquer coisa, contanto que a base aliada permaneça feliz. Ministério das Religiões...Ministério das Relações Espúrias...Ministério dos Regimes de Engorda...
Mas ora, é o Ministério das Relações Exteriores! o velho e bom Itamaraty.
A verdade é que ministério até que é fácil, mesmo considerando a dificuldade de entender algumas coisas. Quais seriam, por exemplo, as diferenças de atribuições do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)?
Já lembrar o nome dos ministros, é outra etapa.
O horror mesmo está dos ministérios pra baixo. Só quem já entrou em um prédio da administração federal tem condições de imaginar, pela simples leitura das plaquinhas nas portas de eucatex, a inacreditável quantidade de assessorias, diretorias, coordenadorias, superintendências, chefias, subchefias, conselhos em geral. Todos com suas respectivas siglas.
Mas algumas premissas são fundamentais para mover-se no estranho mundo das siglas, pois mesmo para o mais abnegado burocrata deve ser impossível dominar o incomensurável conjunto de siglas que compõe os órgãos da administração federal.
Um detalhe importante é que quanto mais importante o cargo, menor a sigla. PR é a própria presidência da república. Duas letrinhas que dizem tudo.
Se ao ser convocado para algum compromisso no governo federal o cidadão perceber que a sala onde a reunião vai ocorrer tem uma sigla com mais de quatro letras, pode ter certeza de que está muito pouco valorizado e que qualquer decisão precisará subir pelo menos dois escalões para que seja tomada. Siglas com hífen, pode esquecer. Nada pode ser resolvido por um órgão que tenha hífen em sua sigla.
A vida em Brasília exige, num primeiro momento, o domínio das siglas que compõem os endereços, por uma questão de simples sobrevivência. O passo seguinte, que depende muito do grau de envolvimento com a máquina pública, é preciso dedicar algum esforço às siglas governamentais.
MRE...
Meio sonolento, não consegui decifrar na hora.
Um governo tão pródigo na criação de ministérios e secretarias especiais é capaz de qualquer coisa, contanto que a base aliada permaneça feliz. Ministério das Religiões...Ministério das Relações Espúrias...Ministério dos Regimes de Engorda...
Mas ora, é o Ministério das Relações Exteriores! o velho e bom Itamaraty.
A verdade é que ministério até que é fácil, mesmo considerando a dificuldade de entender algumas coisas. Quais seriam, por exemplo, as diferenças de atribuições do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)?
Já lembrar o nome dos ministros, é outra etapa.
O horror mesmo está dos ministérios pra baixo. Só quem já entrou em um prédio da administração federal tem condições de imaginar, pela simples leitura das plaquinhas nas portas de eucatex, a inacreditável quantidade de assessorias, diretorias, coordenadorias, superintendências, chefias, subchefias, conselhos em geral. Todos com suas respectivas siglas.
Mas algumas premissas são fundamentais para mover-se no estranho mundo das siglas, pois mesmo para o mais abnegado burocrata deve ser impossível dominar o incomensurável conjunto de siglas que compõe os órgãos da administração federal.
Um detalhe importante é que quanto mais importante o cargo, menor a sigla. PR é a própria presidência da república. Duas letrinhas que dizem tudo.
Se ao ser convocado para algum compromisso no governo federal o cidadão perceber que a sala onde a reunião vai ocorrer tem uma sigla com mais de quatro letras, pode ter certeza de que está muito pouco valorizado e que qualquer decisão precisará subir pelo menos dois escalões para que seja tomada. Siglas com hífen, pode esquecer. Nada pode ser resolvido por um órgão que tenha hífen em sua sigla.
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