sábado, 31 de maio de 2008

Cidadão


21 de maio de 2008. Nesse dia me tornei cidadão brasiliense do jeito mais extremo em que isso pode acontecer. Nasceu meu filho Miguel, no hospital – ora veja – Brasília, no Lago Sul. 15° 50’ 45” S / 47° 52’ 56” W. Tenho um filho candango e tropical.
Escolher a cidade em que se vai ter um filho não é uma coisa usual na vida das pessoas. A nós foi dada essa oportunidade e aqui estamos.
Às vésperas de completar 50 anos, apesar do caos no trânsito e da interminável lista de desrespeito a seu projeto urbanístico, a cidade ainda tem jeito de futuro.
Para as gerações anteriores a nossa, era o fim-do-mundo do vir a ser. Alguns dos funcionários públicos que tiveram de ser arrancados à força do Rio de Janeiro hoje são nossos vizinhos. Quem acreditou ou não teve mais remédio, desfila seus cabelos brancos (e de tantas outras cores) pela cidade. Esses são os mesmos que viram os delírios de grandeza gestados no pleno exercício da democracia, sonhados em concreto armado e surpresa virarem, em poucos anos, o cenário para o desfile de lúgubres generais e seu tempo estranho transposto para a vastidão do Planalto e daí para o país.
Para as pessoas da minha geração, por muitos anos, Brasília foi sinônimo de milico, burocracia e endereços incompreensíveis, para logo retomar sua vocação de esperança, tantas vezes defraudada. Mas pelo menos depois de um tempo foi porque assim o quisemos.
A cidade mantém esse olhar otimista, essa força que vem de ser feita por gente de cada canto do país, que acredita que o futuro deve ser sempre melhor que o passado.
Por mais difícil que tudo pareça, por aqui vai passar o jeito de resolver nossas mazelas. E é aqui que meu filho vai começar a ser brasileiro.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Pontes

Desde o final de 2002, ,quando se fala em ponte, em Brasília, logo vem à cabeça a ponto JK, a terceira ponte, a ponte que imita um seixo saltando na água, como na brincadeira de criança. Sem considerar-se o fato de que seu custo previsto era de 40 milhões de reais e que acabou custando 160 milhões e que, dizem, por conta dela faltou remédio no distrito federal, na época de sua conclusão, trata-se obviamente de um exagero de ponte. Foi a marca que o faraó Roriz I legou à capital. A ponte é inegavelmente bela, mas parece deixar sempre uma pergunta na cabeça de quem a observa: Será realmente necessário tudo isso para uma ponte?


A segunda ponte é que traz no seu desenho o espírito da cidade: a beleza na simplicidade das linhas; a sofisticação pela leveza. Ela parece tocar de leve a água, como quem atravessa com cuidado um vau, pisando delicadamente sobre as pedras que afloram à superfície. Fácil perceber tratar-se de uma obra de Oscar Niemeyer. Só não foi muito feliz na hora de ser batizada. A pobre se chama Ponte Costa e Silva. Tremendo azar receber justamente o nome de meu conterrâneo marechal, justamente aquele que mais se parecia a uma caricatura de ditador sul-americano e para quem leveza e delicadeza certamente não faziam parte de suas maiores preocupações.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

No Planalto

Ontem participei de uma reunião na Casa Civil da Presidência da República. Ala A, anexo III, do Palácio do Planalto.
Todos os clichês possíveis quando se trata de serviço público, num único corredor: festinha de aniversário, vendedora de bijuterias e barnabé lendo jornais esportivos na internet, gente por todos os lados e um sem número de mesas sem ninguém. Dez da manhã.
A ilha da fantasia no seu apogeu. Mármore branco por todos os lados, taças de cristal tcheco para servir água, obviamente por um garçom smoking e gravata borboleta. Estacionei o carro lá no fundo, no último estacionamento, perto das canchas de tênis e de vôlei de praia (areia branquinha na vermelhidão do cerrado). E uma outra estrutura, que na pressa não observei em detalhe e que ficou boiando na minha cabeça. Só ao chegar em casa a informação foi devidamente processada, embora soe um tanto inverossímil.
Eu acho que tem uma pista de mini-golfe nos jardins do Palácio do Planalto.